27 de jan. de 2010

Cara a Cara com a Pior Metade


A essa altura do campeonato eu deveria estar em seu mural, com a mesma cara de quem acabou de protagonizar um comercial de margarina. Alegre, sorridente e promissor, tal qual as mamães desejariam para suas filhinhas durante a vida conjugal.


Tornei-me, então, a foto de um ente falecido. Antes eu era agraciado com um ou dois ímãs de prestígio, agora ando bolando por entre as últimas imagens no fundo da caixa cintilante. Não sei ao certo se virei recordação ou negativo amassado. Na falta de algo melhor, nunca me faltou coragem para dispensar uma bela cena só por causa de sua pose.


Só sei que não quero acender a luz e estragar a revelação de suas fotos novas.

15 de jan. de 2010

Amor Cinematográfico


Meu amor, meu bem, me afaste desse seu ideal egocêntrico de amor. Nós fomos feitos um para o outro, só a distância pode nos proporcionar a harmonia. Você não vai comigo aonde vou para que ninguém possa invejar a nossa felicidade mal redigida. Sim, deve ser mero erro de roteiro. Alguns telespectadores têm o coração na mão, desconfiados daquilo que entram sorrateiramente por suas retinas. Meu amor, nosso relacionamento é um filme para cults. Nossas fotos não têm enquadramento, nossos personagens beiram o dramalhão. Estamos sempre fora das marcações e raramente ensaiamos nossos textos. Só a química salva nossa película. Este item sim, é o orgulho do diretor, pois quando a gente se encontra sob o mesmo plano é praticamente uma catarse cinematográfica. Nossa química é o desencontro. Perfeita. Memorável. A fórmula mágica para prender a atenção da platéia. E eu aqui atrás desse projetor com cara de quem já conhece os diálogos.

14 de jan. de 2010

Teoria do Impasse

Um dia você descobre que sempre esteve sozinho entre pessoas comuns e paredes imóveis, nada mais que um ser aleatório entre muitos indigentes prontos para a cova, com o diferencial de ter sido dotado de uma falsa consciência de mundo. Este sim, nunca esteve de acordo com nossa visão ou coração, pois os outros elaboraram suas próprias versões. Sexo instintual, casamento com noivado, virgindade com paixão, ninfetas seminuas nas capas de revistas e comerciais de TV. A vida é um grande fosso de senso comum entrecortada por malabaristas anônimos e artistas ilusionistas, amparada pela miséria espetacular da arte, seja ela inconsciente ou não. É tão paradoxal as pessoas usarem os mesmos termos para conceituar o cerne da divergência instantânea entre os demais, onde nem mesmo o inconsciente coletivo é capaz de apaziguar tais forças. As palavras são as mesmas, as mentes é que vagueiam. Umas divagam, outras transbordam ignorância pra você. Pra elas é só uma questão de hermenêutica, a mesma que o juiz e o advogado utilizam para definir rumos diferentes ao réu no tribunal. É um choque pensar na pequenez humana.