10 de nov. de 2010

Sob a Mira


Fui tomado de assalto
Não pude resistir
Pois não havia objeção
Fiz tudo o que me foi solicitado
Só me falta gravar o intinerário
Para mirar aquele endereço
Quando quiser ser o alvo

30 de set. de 2010

Categoricamente Inviável

Não sei o que faço pensando em ti, sabotando minha sensatez a serviço da ilusão. Caminho construído a passos largos de verdades particulares, pois assim se ganha mais tempo na hora de explicar ao ciúme os motivos da austeridade, cuja força depende de relativo sentimento de posse.

Cena de Histórias de amor duram apenas 90 minutos

Não estive lá de rosto colado com você naquela foto; não segurei sua mão naquela tatuagem que você suportou bravamente para ter gravada na pele; não estou no seu mural, no seu caderno de anotações, no seu chaveiro, enfim, na sua vida. Não posso sequer abonar as breguices do amor.

Tenho ciúme do que não vivi ao seu lado. E, mais além, padeço pelo que não serei lembrado.

3 de set. de 2010

O Prazer em Fazer


O caminho percorrido é o próprio êxito quando é possível apontar atitudes gratuitas. Só mesmo uma boa dose de desprendimento pode evitar desarranjos emocionais. Não que seja da maior relevância, pois nem mesmo certos autores dos atos infracionais merecem tamanha distinção mental quando o assunto é maturidade.

Erro de raciocínio descarado, declarado e recorrente. Várias notas para um mesmo tom (de voz) que desembocam na finitude do conhecimento mútuo, porque não dizer na alegação da funcionalidade dos estereótipos, quem sabe até nas teorias de conspiração particulares.

Particularidades. Só.

Pra fazer, viver e se doar sem mais delongas.

Cena do filme (500) dias com ela
“Você não pode atribuir um significado cósmico a um simples evento terreno. Coincidência. É o que tudo é. Nada mais que coincidência.”

15 de ago. de 2010

Saco de Vírgulas


O momento certo de retroceder ao papo de alguns minutos atrás já passou. Foi justamente a hora que o interlocutor me fez perder de vista o pique da conversa, pois quando respirei para engatar outro período da frase, fui duramente interpelado por um novo argumento sem que tivesse assuntado metade das sinapses. Saí em desvantagem antes mesmo de pensar em estabelecer um diálogo sadio. Somando tudo dá uma média de dois predicados sem sujeito da minha parte para uma gramática do adversário. Sendo assim, inevitavelmente, não posso considerar tamanho tumulto senão uma grande disputa pelo exercício do poder momentâneo.


E depois dizem que introspecção é puro modismo entre jovens pós-modernos.

9 de ago. de 2010

Interferência

O deleite de deixar o delito devorar-me
em demonstrações de desamparo
que disparam o desejo dissociativo de te despir.

12 de mai. de 2010

O Extremo de um Grande Prazer



"E você foi embora, de novo. Eu te mandei embora de novo. Mas, como nos nossos melhores dias, acompanhei com os olhos o seu carro até virar na pracinha. Como nos nossos melhores dias eu senti alívio, saudade, raiva de você. Queria que você fosse embora pra sempre. Queria que você voltasse."
(Érica Suzumura)

Parece superior o aprendizado que vem do desgosto. Dá a impressão de que o mundo conspirou para a derrota existencial e dos desejos, gerando a desculpa de que o futuro será diferente, embora não esteja clara a dificuldade em admitir o excesso de gostos.

A dor desperta clichês de autoajuda, daqueles que surgem quando a gente está renegando toda a seção na livraria. Ela só é fator negativo pra quem está acostumado a ter tudo nas mãos.

Sua Nova Suposição


Eu não sei pedir para você resolver o que te cabe
Você não sabe ouvir a minha rendição
Eu não sei falar dos meus anseios
Você não sabe a hora de pedir perdão

Eu nem vou guardar as suas falas
Você nem vai cometer uma loucura
Eu nem posso ver você descrer
Você não mede sua amargura

Eu não vou mudar seus planos
Você não vai pedir pr’eu me acomodar
Eu não quero saber de seus envolvimentos
Você não tem nada do que reclamar

11 de mai. de 2010

[Des]Culpa


O coração implora para que a razão não tome fôlego em suas sinapses.

Dizer que os passos são feitos de repetições é estabelecer uma culpa a priori, como se fosse possível amenizar o crime por uma pré-confissão.  Daí o despropósito neurótico em nunca apresentar a si mesmo dados suficientes para suprir angústias. O presente afetivo é uma invenção dantesca, ocasional e relativamente confortável, já que emprega argumentos para todas as variáveis.

Ah, solte um pouco o freio
deixe de receio
encare mais os fatos
sirva ainda frio seu coração
Seu fogo não se espalha
Excesso de razão
é como opinião
Se não ajuda, atrapalha

(Reprise – Ludov)

Eis que Sigmund, em seus apontamentos falocêntricos, deu pistas evasivas sobre a não-constituição da mulher que te habita, da incompletude emergencial e da “inveja” do falo. Bingo!

A razão só é absoluta para si mesma, assim como poderiam pensar seus donos. Cães que ladram farpas de amor e ódio cortantes.

O que sobra ao coração, falta aos olhos.

2 de mai. de 2010

Na Ponta da Língua


O cara: Que tu tem?
Ela: Acho que você tá pensando que sou uma louca.
O cara: E por que eu pensaria isso?
Ela: É que você pode pensar errado de mim.
O cara: Como assim?
Ela: Sabe... a gente transou de primeira. Nós nunca tínhamos ficado antes.
O cara: Era isso?
Ela: Não quero que tu fique pensando...
O cara: Arrã.
Ela: ...que isso acontece sempre...
O cara: Relaxa.
Ela: Porque essa foi a primeira vez que...
O cara: Tudo bem.
Ela: ...aconteceu comigo.
O cara: Tá.
Ela: Eu não sou uma qualquer. Não quero que...
O cara: Sei.
Ela: ...tu pense que sou...
O cara: Normal.
Ela: ...uma...uma...é...é... como é mesmo o nome?
O cara: Cara de pau.
Ela: Hã?
O cara: É. Sou muito cara de pau de ter saído do motel sem pagar o chokito.

1 de mai. de 2010

A Velha Sensação de Superficialidade


Ontem à noite eu conhecia uma guria que já desconhecia de outros carnavais, de outras cantorias. Ela não era estranha, mas me estranhava. E me arranhava as impressões como se quisesse se autoafirmar o tempo todo. 

Hoje ainda é o dia seguinte - fato que se repetirá também amanhã e em outras manhãs anoitecidas - pois nunca deixarei de ser um mero estereótipo. Antigamente eu era um perfil ao seu alcance, hoje somos o que não dissemos um ao outro, sobretudo a distância que nos mantivemos durante toda esta falta de diálogo. 

Acontece que houve um desprocessamento de informações as quais chegaram aos seus destinos antes da hora. Ela ainda chegava quando eu já tinha ido embora. Em boa hora, literalmente.

27 de abr. de 2010

Freud Explica


Um dia eu tive a chance de te falar dos meus sonhos, das minhas tolices e dos meus desapegos. Despi-me para que seu olhar me acolhesse ao invés de me clinicar. Você me olha, me quer, me confunde, se confunde, põe a culpa no vizinho de cima e relata os fatos ao psicanalista. Numa dessas você discute o amor baseado em algum livro do passado, toma nota de cada deslize intelectualmente inapropriado para o momento, exatamente como você um dia  argumentou a seu favor. Você se inventou. Levou a sério toda a literatura que poderia ter sido um hobby. Pois assim é a psicanálise, ela explica tudo. Pra tudo ela serve. Sua busca está no mesmo nível, suas suposições atormentam sua cabeça e pessoas continuam a passar junto com seu senso de distinção sentimental. Amor sem loucura é suposição. Freud explica, mas não dá conselho.

26 de mar. de 2010

Pura Ciência


O amor não move uma palha por si mesmo. Ele nada pode fazer a seu favor sem que esteja de acordo com o cumprimento legal do desejo humano.
Nós o inventamos na tentativa de amenizar nosso sentimento de decrepitude diante da morte, quando o medo transforma a solidão em estereótipo da felicidade.
O amor é o verdadeiro contrato social, uma versão renovada do banco imobiliário.
É frágil por não ter onde se apoiar, se consubstanciar; inseguro, por necessitar de apego incondicional; e eloqüente, por exigir bordões mágicos de manutenção da escala sentimental.

O amor foi inventado, é pura ciência. Cabe a nós encontrar o seu centro gravitacional.

18 de mar. de 2010

Sinceridade (ou a falta dela)

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É muito mais excitante para a mulher testar a nossa capacidade de envovê-la que receber nossa sinceridade.
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16 de mar. de 2010

Cabeça de Diamante


Você não encaixa ideias sobre si mesma nem torce para que seu discurso seja coerente, depois devolve as impressões com espanto e ironia.

Cheia de si, como de costume, você não consegue declarar o amor que sente nas diversas oportunidades em que seus olhos se cruzam aos meus.

Você é a Sibéria inteira, o inverno russo.

O que me espanta é o fato de existir algum tipo de sentimento ocasional que supere o famigerado amor-senso-comum dos filmes de Sessão da Tarde.

Ou talvez o amor de nossas vidas esteja apenas em nossas cabeças, lugar de onde jamais conseguiremos exportá-lo para o mundo real, daí a alcunha de romântico.

Não faz sentido apertar a campainha e ficar parado.



10 de mar. de 2010

Olhos na Nuca


Ninguém tem um caminho pela frente. Você está exatamente onde ele acabou de chegar, veio junto com sua sombra pra não pagar pedágio. Só se sabe que ele está aí pelo peso das tomadas de decisão.  Isso sim te fez caminhar até o fim do começo do seu caminho, já que ele iniciou lá naquela luz estonteante focada na sua cara na hora do parto. O presente é todo passado. A sua vida é o que você muitas vezes deixou de ser e que, ironicamente, foi estabelecido como rumo naquele momento. Essa é a justificativa mais frequente em seu diário de bordo, nos sonhos e nas mesas de bar. Você é uma suposição de si mesmo. É fácil arrumar um argumento para tudo que se deseja, principalmente quando se trata de caminho. Seus amigos balançarão a cabeça e o seu dia seguinte será posto em questão novamente, embora tenha elaborado todo o discurso psicossocial da autonomia satisfatória. A felicidade é um atalho materializado por nossos passos.

3 de mar. de 2010

Ecos Falsos


Durmo, acordo, sonho, revisito. Iniciativa é pra quem está preparado para ser criticado. Sou um anônimo no grupo até o momento da exposição, quando os olhos acomodados induzem o cérebro a trabalharem em prol do desmerecimento. Percebo então que não preciso inventar nada, apenas levar cada raciocínio ao seu devido lugar. Passei muito tempo ausente das atividades corriqueiras, extrapolei a conta dos prazeres individuais mais precisos. Até agora não sei onde fui parar, só me sobraram suposições de uma teoria infundada. Estou quase surdo de tanto pensar alto. Já sei, tive uma ideia...

21 de fev. de 2010

Uma pela Outra


Não importa se ela tem pouca [ou nenhuma] intimidade com as regras gramaticais, se nunca ouviu falar do Kubrick ou se pensa que Nelson Rodrigues é um cantor de bolero. Já não faço tanta questão das interrogações nos finais das perguntas.


Prefiro a erudição afetuosa, o olhar confortante. Pra quê tantos livros se eu te quero bem assim, meu bem?

3 de fev. de 2010

Apenas o Melhor de Si Mesmo

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O processo de conquista é uma encenação de comum acordo.
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Ausência Retroativa


Hoje nem lembrei de você. Não foi possível, o dia não deu trégua. Ainda não assimilei bem o acontecido, inexplicavelmente você não passou uma só vez pela minha cabeça. É magnífico poder encostar o juízo no travesseiro e ter a certeza de sua ausência no embaralhar dos pensamentos.


Por isso estou aqui para dizer que isto não é um post, a menos que fosse dedicado a você. Mas como não é, eu gostaria de ratificar, de antemão, que não fui acometido pela ideia de fazer tal dedicatória, pois como já havia comentado você não deu as caras por aqui. Não é que eu tenha te esquecido, apenas não lembrei. Se a intenção é esquecer mesmo, não lembrar já significa muita coisa, principalmente se tudo o que eu disse agora não existir. Ainda bem que não. Ufa!

27 de jan. de 2010

Cara a Cara com a Pior Metade


A essa altura do campeonato eu deveria estar em seu mural, com a mesma cara de quem acabou de protagonizar um comercial de margarina. Alegre, sorridente e promissor, tal qual as mamães desejariam para suas filhinhas durante a vida conjugal.


Tornei-me, então, a foto de um ente falecido. Antes eu era agraciado com um ou dois ímãs de prestígio, agora ando bolando por entre as últimas imagens no fundo da caixa cintilante. Não sei ao certo se virei recordação ou negativo amassado. Na falta de algo melhor, nunca me faltou coragem para dispensar uma bela cena só por causa de sua pose.


Só sei que não quero acender a luz e estragar a revelação de suas fotos novas.

15 de jan. de 2010

Amor Cinematográfico


Meu amor, meu bem, me afaste desse seu ideal egocêntrico de amor. Nós fomos feitos um para o outro, só a distância pode nos proporcionar a harmonia. Você não vai comigo aonde vou para que ninguém possa invejar a nossa felicidade mal redigida. Sim, deve ser mero erro de roteiro. Alguns telespectadores têm o coração na mão, desconfiados daquilo que entram sorrateiramente por suas retinas. Meu amor, nosso relacionamento é um filme para cults. Nossas fotos não têm enquadramento, nossos personagens beiram o dramalhão. Estamos sempre fora das marcações e raramente ensaiamos nossos textos. Só a química salva nossa película. Este item sim, é o orgulho do diretor, pois quando a gente se encontra sob o mesmo plano é praticamente uma catarse cinematográfica. Nossa química é o desencontro. Perfeita. Memorável. A fórmula mágica para prender a atenção da platéia. E eu aqui atrás desse projetor com cara de quem já conhece os diálogos.

14 de jan. de 2010

Teoria do Impasse

Um dia você descobre que sempre esteve sozinho entre pessoas comuns e paredes imóveis, nada mais que um ser aleatório entre muitos indigentes prontos para a cova, com o diferencial de ter sido dotado de uma falsa consciência de mundo. Este sim, nunca esteve de acordo com nossa visão ou coração, pois os outros elaboraram suas próprias versões. Sexo instintual, casamento com noivado, virgindade com paixão, ninfetas seminuas nas capas de revistas e comerciais de TV. A vida é um grande fosso de senso comum entrecortada por malabaristas anônimos e artistas ilusionistas, amparada pela miséria espetacular da arte, seja ela inconsciente ou não. É tão paradoxal as pessoas usarem os mesmos termos para conceituar o cerne da divergência instantânea entre os demais, onde nem mesmo o inconsciente coletivo é capaz de apaziguar tais forças. As palavras são as mesmas, as mentes é que vagueiam. Umas divagam, outras transbordam ignorância pra você. Pra elas é só uma questão de hermenêutica, a mesma que o juiz e o advogado utilizam para definir rumos diferentes ao réu no tribunal. É um choque pensar na pequenez humana.