30 de ago. de 2007

Sobre Homens e Cães

Cachorros-mendigos não têm culpa pelo mau semblante vindo das ruas e muito menos autoestima para abanar a cauda ao sinal de um assobio. Os olhos deles reprovam qualquer suspeita de sentimento de pena e, por isso, preferem não demonstrar entusiasmo de primeira. Eu entendo. [acabo de perder o ônibus] É bem provável que o descaso seja pura incredulidade numa possível atenção recebida, porém seu desejo mais profundo tem sentido inverso: olhar o mundo pela janela de um carro em movimento, só para sentir o vento bater no focinho. Ou quem sabe ganhar um ossinho de ovelha européia como os das madames. Talvez só por um dia. Humanos arrotam inteligência enquanto cães resguardam a sua. Fingem-se de morto. Até porque se as cadelas no cio exalassem cheiro  tal qual as mulheres, já não se distinguiria uns dos outros. Não pelo latido.

16 de ago. de 2007

On/Off

O vaga-lume vaga alumiando o caminho por onde passa. Quando apaga a gente fica sem saber pra onde ele foi, entretanto, basta um novo ponto luminoso pra saber a exata localização. Sua vida é um Story Board otimizado ao máximo. Quadro a quadro. Passo a passo. Seu estilo de vida transmite dados concretos sobre seus caminhos percorridos. E assim ele se deixa observar. Deixa claro quando está se aproximando ou se afastando. Não há como não perceber. Sua sinceridade é luminosa e o escuro, a melhor parte do dia para a felicidade, a contemplação do silêncio e o amor. Embora seu sistema On/Off cause apreensão, sua alma sempre iluminada traz conforto aos outros bichos. Os outros bichos o vêem como um ser extremamente pacato, que pouco faz barulho e prefere outro fuso, mas por dentro dele, vagueia uma pá de insultos dóceis. Vaga-Lume. Vaga, Lume.

11 de ago. de 2007

De Volta ao Ringue

Um homem só já é um equívoco para poluir um determinado ambiente, imagine vários deles conversando despreocupadamente numa calçada qualquer? Algumas lesadas mentes ainda se perdem, mas não me canso de comentar sobre nosso tamanho nível de “abestadice”. Não dominamos papo interessante algum. Elas simplesmente fingem interesse pelo que falamos, deixando-se levar por alguma espécie de atração cujo foco principal não é o nosso conteúdo, porque se dependêssemos de tal êxito para conseguirmos beijá-las, estaríamos tão longe de concretizarmos nosso desejo quanto um jumento de dominar dois idiomas. Depois daquela paquera bem sucedida, então voltamos para casa com a plena certeza que o sucesso foi obra da lábia, do pleno exercício da arte da conquista. Mal sabem nosso ego e inteligência que a prática milenar dessa tentativa expurgou aos tempos atuais uma espécie de lista de clichês de exaustivo uso masculino, transformando-nos num ser repetitivo e, em alguns casos, acéfalo. Não precisamos existir para uma determinada mulher, nem ocupar a sua agenda telefônica ou estar na sua lista de contatos online - todas sabem quem somos e o que rotineiramente falamos quando nossos olhares alardeiam perigo. E é óbvio que a nossa reduzida inteligência no domínio de qualquer que seja a estratégia permite facilmente a identificação de nossas reais intenções. Importuno mesmo deve ser quando estamos só olhando.