Eu vi você chegar de mansinho. Tinha a imagem camuflada e a identidade escondida na imensidão textual do blog. Nem de longe parecia uma menina com o olhar perdido. Trazia consigo a firmeza do passo de um soldado raso no dia da primogênita condecoração.
Quis ver de perto o que já havia se definido instantaneamente a partir da primeira troca de palavras.
Não experimento sapatos porque confio na pontuação de meus olhos.
Beijei seu olho e suas tatuagens feitas à mão com lápis de hidrocor. Respirei a sua fumaça, puxei o seu cabelo, encarei a sua inquietação. Sorri do constrangimento provocado pelas demonstrações públicas de carinho. Sorri. Só ri. Um riso contido no canto do rosto.
Liguei, deixei recado, improvisei bilhete, peguei carona, comprei chocolate caseiro com moedas de dez e cinco centavos, esperei sentado, tirei seus tênis, apresentei a varanda dos pensamentos longínquos.
Tornei-me uma alma perdida no limbo, que, de tanto bater na porta do paraíso, foi obrigada a inventar a sua própria salvação.