23 de nov. de 2009

Intempestividade


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Nossos defeitos são mecanismos de socialização.
Sem eles, passaríamos despercebidos por várias pessoas.
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18 de nov. de 2009

Bastardos Inglórios (2009)


Bastardos Inglórios é mesmo um filme que não abre margem pra que seja outro diretor senão Tarantino. Sangue. Deleitosos diálogos. Sangue de novo. Plástica. Sátira. Figurões Caricatos. Com o filme eu pude aprender o que é escalpo, apesar de meu estômago ter tentado impedir tal tarefa.


Aldo Raine [Brad Pitt] chega a ser totalmente cômico com seu sotaque arrastado do Tennessee, apesar de ser um aterrorizante caçador de nazistas. As suásticas que o tenente caipira grava na testa dos alemães é apenas um toque taratinesco. Mas o cara do filme é Hans Landa [Christoph Waltz]. Ele encarnou um verdadeiro cão farejador fascista de ar cínico. Mérito pro roteiro também que, por sua vez, lança mão de colocá-lo em situações-chaves, dosando a tensão com o telespectador.

Muitos apontam atropelos do diretor por ter distorcido e passado por cima de parte da Segunda Guerra. Uma grande balela. A essa altura do campeonato Tarantino não quer nem saber se estão reivindicando a falta de conteúdo do longa. As duas horas e meia de atenção incondicional na poltrona do Cine Box colaboraram para que eu engolisse restos de aves sem perceber. Sim, Bastardos Inglórios me fez comer uma barra-que-chamam-de-cereais. Coisa que só não acho mais horripilante que Crepúsculo.

Bastardos Inglórios é uma sátira de guerra, isso basta para que não fiquem tirando o mérito do diretor. Mas isso é papo de crítico de verdade. Quer dizer, deve ser. Assiste aí.



Direção e Roteiro: Quentin Tarantino

Atores: Brad Pitt, Christoph Waltz, Mélanie Laurent, Eli Roth e Diane Kruger.

11 de nov. de 2009

Estômago (2007)



Na cadeia, todo mundo tem um codinome. Alecrim [João Miguel], nome dado pelos companheiros de cela, é um cozinheiro nato. Daqueles de conseguir sexo gratuito pelo seu talento e tudo mais. Quem não o chamava de Paraíba, insinuava logo sua naturalidade do Ceará, sem nunca o coitado ter dito sua real origem. Um roteiro literalmente gastronômico e riquíssimo em detalhes. Gostei muito da ideia de transformar o enredo numa sequência paralela. Isso faz com que a gente não fique acompanhando o óbvio sossegado.
Alecrim levou para a cadeia o requinte gastronômico da cozinha italiana, colheu impressões variadas entre os condenados e enriqueceu o filme com sua capacidade de nos mostrar pormenores ocultos da natureza humana ao lidar com as relações de poder e com o sexo.
A cadeia é também um espaço marcado pela hierarquia, onde o lugar mais almejado é justamente o topo do beliche. Alecrim se perdeu em sua ingenuidade na rua, mas dominou bem os códigos da prisão para obter regalias. Top Five de filmes nacionais pra mim.

Direção: Marcos Jorge
Roteiro: Marcos Jorge, Lusa Silvestre, Cláudia da Natividade
Atores: João Miguel, Fabiula Nascimento, Babu Santana, Carlo Brinani e Paulo Miklos

8 de nov. de 2009

This is Twitter


No twitter, a gente tem vontade de gritar pra todo mundo ouvir. Depois que o maldito sai pela garganta, parece que ninguém te deu ouvidos. Pluft! Um novo post se sobrepôs ao seu e a fila indiana robótica de updates faz o seu sólido desabafo se desmanchar no ar, como os vendedores de capa de celular no centro da cidade. Porque muitas dessas twittadas são meros convites em uníssono. O dono sinalizando a porta de entrada, embora o lar nem sempre esteja ao alcance de todos. Aos carentes, um ouvido; aos fofoqueiros, uma língua adjuntora; aos descontentes, um divã imaginário pouco intimidativo; aos cool hunters, uma nova ferramenta de distinção social e pseudo-intelectual. Uma dessas pessoas que nesse momento está procurando no Manual do Novo Acordo Ortográfico e em frases nietzschianas, uma maneira de desestruturar o seu raciocínio, para que novos conceitos sejam tratados como “racionalidade comunicativa”. Nem sempre quem vê, enxerga bem. Observar e ouvir são duas boas técnicas de aprendizagem, mas dependem, prioritariamente, de uma boa introspecção.