27 de dez. de 2009

Aqui Estou

Buscar respostas é uma maneira saudável de mostrar as caras no mundo sem deixar que muitas variáveis da vida se apresentem como axiomas. Algumas pessoas levam a sério essa questão bem mais que outras e, que isto não esteja isento de coincidência, mas são justamente aquelas cujas preocupações têm maior poder de corrosão. Quanto menos alguém se preocupa com coisas e pessoas que o rodeiam, tende a ser menor o nível de stress na hora de encostar a cabeça no travesseiro, já que é esse o momento sagrado de fazer o balanço do dia. Quando vários dias não terminam bem é sinal que muitos outros não começarão sem preocupações. Não adianta brincar de pique-esconde com respostas fantasmas. Enquanto não me conformar com a pequenez que me cabe, a cabeça continuará a dar mil voltas no mesmo ponto.

23 de nov. de 2009

Intempestividade


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Nossos defeitos são mecanismos de socialização.
Sem eles, passaríamos despercebidos por várias pessoas.
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18 de nov. de 2009

Bastardos Inglórios (2009)


Bastardos Inglórios é mesmo um filme que não abre margem pra que seja outro diretor senão Tarantino. Sangue. Deleitosos diálogos. Sangue de novo. Plástica. Sátira. Figurões Caricatos. Com o filme eu pude aprender o que é escalpo, apesar de meu estômago ter tentado impedir tal tarefa.


Aldo Raine [Brad Pitt] chega a ser totalmente cômico com seu sotaque arrastado do Tennessee, apesar de ser um aterrorizante caçador de nazistas. As suásticas que o tenente caipira grava na testa dos alemães é apenas um toque taratinesco. Mas o cara do filme é Hans Landa [Christoph Waltz]. Ele encarnou um verdadeiro cão farejador fascista de ar cínico. Mérito pro roteiro também que, por sua vez, lança mão de colocá-lo em situações-chaves, dosando a tensão com o telespectador.

Muitos apontam atropelos do diretor por ter distorcido e passado por cima de parte da Segunda Guerra. Uma grande balela. A essa altura do campeonato Tarantino não quer nem saber se estão reivindicando a falta de conteúdo do longa. As duas horas e meia de atenção incondicional na poltrona do Cine Box colaboraram para que eu engolisse restos de aves sem perceber. Sim, Bastardos Inglórios me fez comer uma barra-que-chamam-de-cereais. Coisa que só não acho mais horripilante que Crepúsculo.

Bastardos Inglórios é uma sátira de guerra, isso basta para que não fiquem tirando o mérito do diretor. Mas isso é papo de crítico de verdade. Quer dizer, deve ser. Assiste aí.



Direção e Roteiro: Quentin Tarantino

Atores: Brad Pitt, Christoph Waltz, Mélanie Laurent, Eli Roth e Diane Kruger.

11 de nov. de 2009

Estômago (2007)



Na cadeia, todo mundo tem um codinome. Alecrim [João Miguel], nome dado pelos companheiros de cela, é um cozinheiro nato. Daqueles de conseguir sexo gratuito pelo seu talento e tudo mais. Quem não o chamava de Paraíba, insinuava logo sua naturalidade do Ceará, sem nunca o coitado ter dito sua real origem. Um roteiro literalmente gastronômico e riquíssimo em detalhes. Gostei muito da ideia de transformar o enredo numa sequência paralela. Isso faz com que a gente não fique acompanhando o óbvio sossegado.
Alecrim levou para a cadeia o requinte gastronômico da cozinha italiana, colheu impressões variadas entre os condenados e enriqueceu o filme com sua capacidade de nos mostrar pormenores ocultos da natureza humana ao lidar com as relações de poder e com o sexo.
A cadeia é também um espaço marcado pela hierarquia, onde o lugar mais almejado é justamente o topo do beliche. Alecrim se perdeu em sua ingenuidade na rua, mas dominou bem os códigos da prisão para obter regalias. Top Five de filmes nacionais pra mim.

Direção: Marcos Jorge
Roteiro: Marcos Jorge, Lusa Silvestre, Cláudia da Natividade
Atores: João Miguel, Fabiula Nascimento, Babu Santana, Carlo Brinani e Paulo Miklos

8 de nov. de 2009

This is Twitter


No twitter, a gente tem vontade de gritar pra todo mundo ouvir. Depois que o maldito sai pela garganta, parece que ninguém te deu ouvidos. Pluft! Um novo post se sobrepôs ao seu e a fila indiana robótica de updates faz o seu sólido desabafo se desmanchar no ar, como os vendedores de capa de celular no centro da cidade. Porque muitas dessas twittadas são meros convites em uníssono. O dono sinalizando a porta de entrada, embora o lar nem sempre esteja ao alcance de todos. Aos carentes, um ouvido; aos fofoqueiros, uma língua adjuntora; aos descontentes, um divã imaginário pouco intimidativo; aos cool hunters, uma nova ferramenta de distinção social e pseudo-intelectual. Uma dessas pessoas que nesse momento está procurando no Manual do Novo Acordo Ortográfico e em frases nietzschianas, uma maneira de desestruturar o seu raciocínio, para que novos conceitos sejam tratados como “racionalidade comunicativa”. Nem sempre quem vê, enxerga bem. Observar e ouvir são duas boas técnicas de aprendizagem, mas dependem, prioritariamente, de uma boa introspecção.

14 de jun. de 2009

Por Todos os Lados

- E aí, meu querido, como é que vai?
- Se melhorar, fica melhor.
- Hã?
- Rá! É uma frase nova que bolei pra usar no msn.
- Ah…
- O que tu conta?
- Vamos sair hoje?
- Fechado. Vou só dar uma conectada rapidinho.
- Certo. Vou te esperar lá no Bar do Leo, porque Rachid já tá lá.
- Beleza…

No dia seguinte

- Porra, Cosme, tu nem deu as caras. O que houve?
- Sentei naquela hora da novela pra dar uma olhada nos meus e-mails, aí resolvi espiar quem tava no msn. Depois fui verificar se tinha algum scrap novo, daí lembrei que meu blog, fotolog e myspace estavam desatualizados… Não dá, né? Resolvi colocar tudo em dia. Aproveitei ainda pra comentar no flickr daquela loira gostosa que tá me seguindo no twitter. Sem contar que o picasa da morena lá do Kabão tá só foto porn-star-girl, Roberto que me mandou o link. Fora que achei a galera do intercâmbio no facebook, aí tava respondendo as mensagens deles também. Aí, rapidão eu morguei. Pensei: como já tá amanhecendo, acho que a rapazeada não tá mais lá.
- Ah… Mas vamos nos falar daqui a pouco?
- Bora mesmo! Daqui a pouco eu tou lá pelo msn.
- Mas é lá em casa mesmo que eu tou falando.
- Ah…

25 de mai. de 2009

Pensei que...

- Ei Zé, anda triste assim porque ainda gosta da namorada e sente saudade dela?

- É.

- Não te preocupa, ela não vai voltar...

- ... a ser o que era?

- Não, pra você mesmo.

- Ah...

24 de mai. de 2009

14 de mai. de 2009

Autoengano Mórbido

Uma pessoa qualquer em busca de redução de sua massa corporal precisa entender que nada no meio externo pode ser mais forte que ela mesma. Sua capacidade de diminuir o peso está ligada ao nível de motivação ao qual se pode extrair o vigor necessário para manter o foco. Isto é, a motivação é um componente interior, assim como parte dos fatores emocionais ligados ao drama dos quilinhos a mais. 

O falso motivado paga a matrícula na academia e não vai, só para ter um conforto psicológico de que já deu o primeiro passo. 

É possível acreditar neste pseudo-esforço de maneira suntuosa desde que seja interiorizado, inclusive dando demonstrativos triviais a terceiros como prova de atitude e obstinação, corroborando o princípio da assimilação pela repetição. Uma infecção generalizada. É mais fácil comprar motivação na banca de revista que encarar a realidade do esforço contínuo e cotidiano, negligenciando a ênfase dos resultados positivos obtidos a longo prazo. 

Depois de tudo, o inquilino ainda vem reclamar do fracasso, quando todos na verdade viram que não houve empenho. Amigos, parentes e aderentes observaram que o apelo aos céus não eram condizentes, por isso resolveram motivá-la a encarar uma nova dieta sem apontar as falhas que viram. Colaboraram também para um pseudo-amadurecimento, desta vez sem direito a cirurgia de redução de culpa.

12 de mai. de 2009

Heart-Shaped Box

Para a memória, lembrar das coisas nem sempre é a saída para uma vida saudável. Então é possível dizer que também é muito importante aprender a esquecer. Assim, o cérebro não vai precisar se esforçar para lembrar de tantas delongas. 

Ao lembrar de uma coisa, esqueço outras. Um movimento perfeitamente sincronizado. Por isso, vou esvaziando a caixinha com as fotos manchadas para que fiquem registrados somente os negativos alegres, aqueles que me fazem transbordar de ocitocina. Ainda que algumas gotas de álcool bloqueiem meu hipocampo ou o inconsciente empurre as informações recebidas para o outro lado, não precisarei lembrar conscientemente de tudo que sei, pois tudo o que desejo guardar terá seu lugar garantido. Assim como a memória, o coração também possui seus desígnios. 

Para ambos os casos, os lugares lá conquistados costumam ser vitalícios.

7 de mai. de 2009

Originalidade a Gente Copia dos Outros

Pois num carnaval onde a visão é excessivamente solicitada, o importante é apresentar alguma coisa de concreto mesmo que falte um pouco mais de norte criativo. Cabelos tão anormais para fotos tão conceituais que se mostram em janelinhas mágicas, aquelas mesmas que me fizeram chegar até cada um. Dois, três, quatro, vários perfis de notória semelhança entre a raiz e a polpa: vazio. 

Tomando o princípio da matemática, aquela mesma que a gente estuda na escola sem ter-me-pra-quê, zero e vazio são coisas completamente diferentes. O vazio é ainda mais assombroso. Pois que as senhoras possam encher a cara com dois polígonos gigantes antes de empurrar um pouco de efeito luminoso. Por que não dar uma despintada com um óculos super cool que quase não cabe no meu rosto? Diretamente falando do que eu posso deixar implícito, diria que estou sofrendo de fobia visual. 

A rua está cheia de designers colocando sombras onde não há luz, fazendo corvos voarem em bandos e colocando alegria onde só há tristeza. Quantos quilos de reboco são necessários para reformar um apartamento de um metro e oitenta de altura cheio de espinhas? Ou será pedir demais pra gente tomar um suco dessa caixinha que tem uma embalagem mais capenga? Tão sistemática a paisagem didática pela qual sou ofendido, por vezes solicitado, noutras renegado. 

Quase tudo tem um trejeito, em outras palavras a reprodução do bem-estar-parcial-pseudo-plástico. O filme, a música, a cozinha, o tênis, a camisa do Seu Madruga, o abadá, a escova de dente, chapinha de passar no cabelo e muitos outros signos que não cabem numa mensagem de celular. A vida despista a deficiente inteligência humana com sua auto-referência cotidiana. A mesma mesa que antes recebia o jantar, hoje apóia o computador que alimenta nossos olhares para o próprio umbigo. Foi-se o tempo em que padaria só vendia pão e rosquinha. Malandro é malandro e Manel é Manel. 

Originalidade a gente copia do outros.

24 de abr. de 2009

Casamata

Olha só aquele menino franzino deixando para trás a munição que o mantém vivo no campo de batalha. Não é dele a intenção, muito menos o último palmo de terra para cavar sua própria cova. 

Ele quis dividir o que tinha, mas foi dado como morto antes mesmo de terem encontrado o seu esguio corpo. Hoje ele é apenas um soldado sem placa de identificação. Nem ao menos o perguntam se a guerra é mesmo tudo aquilo que contam os demais nos cartões postais enviados às famílias. O combatente indeciso é apenas um louco solitário carregando medo e munição por um território desconhecido. 

Um soldado de bravura e liderança exercita sua destreza na proliferação da coragem a quem o tem por perto. O anonimato é a sua camuflagem.

13 de abr. de 2009

Má Companhia

Solidão repentina que imprime ritmo puxado. Coração que acelera os compassos para não se atrasar. Dói pouco quando o sono tem vez, pois a noite é longa. Caso acorde antes de mim, permita que eu durma mais alguns minutinhos ao lado desta solidão que, por sua vez, lamentavelmente, é a minha única companhia.

22 de mar. de 2009

Pele

Ainda perco a vontade de apreciar cada pedaço seu
Enquanto tal possibilidade permanece oculta
Prossigo a combinar sua pele com meu paladar
Insaciável, você poderia dizer
Detalhista, eu retificaria com veemência


17 de mar. de 2009

Pra Que Essa Boca Tão Grande?

Hey, doctor Freud, o que me diz desta garotinha que carrega a cesta pela floresta? Ela se mostra desprotegida, ingênua e ao mesmo tempo corajosa. O conto parece alertar crianças aos perigos de se falar com estranhos pela rua. Olha só, a mamãe pediu para não dar ouvidos a ninguém. Mesmo assim ela dá trela ao velho nativo de aspecto rude. Ela parece uma criança. Tenho a impressão de que este enredo não é lá muito distante de meus arquivos da memória. Um animal de aspecto nada amistoso (lobo), uma informação errada presumindo a ingenuidade da mocinha e uma conversa cheia de duplos sentidos. É, eu acho que já vi esta cena em algum lugar. O senhor sabe do que eu estou falando, não é doctor? A garota de chapeuzinho vermelho está se fingindo de inocente só para deixá-lo com boca cheia d'água. Uma história recorrente ao universo do inconsciente da conquista, onde o homem é visto como um predador e a mocinha como uma criança inocente pronta a ser abordada. Não, doctor, eu não estou entorpecido. Mas é que o discurso ainda é freqüente. “Eu não admito a idéia de uma mulher ter que ir até o homem. Isso é papel dele”, comenta sempre uma amiga da vizinha da minha prima. E não é que muitas compartilham desta convicção, contribuindo para o enraizamento da problemática, embora muitas outras reclamem justamente de posteriores variáveis que se desenrolam a partir dessa. Ah, maldita contradição humana! Deve ser por isso que reproduzem as atitudes com tanta facilidade, não é doctor? E eu pensando que desenho animado era pra distrair criança.

14 de jan. de 2009

Humano à Deriva

Ainda tem gente que não sabe o que veio fazer aqui. Fica por aí zanzando de um lado para outro como uma alma penada. É daquele tipo que aperta várias mãos numa noitada e se apaixona a cada novo par de pernas roliças que se aproxima. Embora aparente tranqüilidade, costuma experimentar doses cavalares de vazio e angústia antes de pregar os olhos no travesseiro. Quando o perguntam sobre sua vida amorosa, prefere dizer que anda muito bem sem ninguém. Exala auto-suficiência. O limite é o chão. É pouco capaz de distinguir seus desejos daqueles explorados pelo comercial de TV. Vive os lucros sociais que está na origem da desigualdade entre os demais como se não houvesse constrangimento estrutural algum. Acredita que “vencer” na vida é comprar um mais possante e que cabelo bonito só é possível se for liso. Tem o hábito de depositar fé na razão humana e sandices do discurso científico. Enfim, é um típico humano à deriva. E haja reforço para resgatar tanta gente.