12 de mai. de 2010

O Extremo de um Grande Prazer



"E você foi embora, de novo. Eu te mandei embora de novo. Mas, como nos nossos melhores dias, acompanhei com os olhos o seu carro até virar na pracinha. Como nos nossos melhores dias eu senti alívio, saudade, raiva de você. Queria que você fosse embora pra sempre. Queria que você voltasse."
(Érica Suzumura)

Parece superior o aprendizado que vem do desgosto. Dá a impressão de que o mundo conspirou para a derrota existencial e dos desejos, gerando a desculpa de que o futuro será diferente, embora não esteja clara a dificuldade em admitir o excesso de gostos.

A dor desperta clichês de autoajuda, daqueles que surgem quando a gente está renegando toda a seção na livraria. Ela só é fator negativo pra quem está acostumado a ter tudo nas mãos.

Sua Nova Suposição


Eu não sei pedir para você resolver o que te cabe
Você não sabe ouvir a minha rendição
Eu não sei falar dos meus anseios
Você não sabe a hora de pedir perdão

Eu nem vou guardar as suas falas
Você nem vai cometer uma loucura
Eu nem posso ver você descrer
Você não mede sua amargura

Eu não vou mudar seus planos
Você não vai pedir pr’eu me acomodar
Eu não quero saber de seus envolvimentos
Você não tem nada do que reclamar

11 de mai. de 2010

[Des]Culpa


O coração implora para que a razão não tome fôlego em suas sinapses.

Dizer que os passos são feitos de repetições é estabelecer uma culpa a priori, como se fosse possível amenizar o crime por uma pré-confissão.  Daí o despropósito neurótico em nunca apresentar a si mesmo dados suficientes para suprir angústias. O presente afetivo é uma invenção dantesca, ocasional e relativamente confortável, já que emprega argumentos para todas as variáveis.

Ah, solte um pouco o freio
deixe de receio
encare mais os fatos
sirva ainda frio seu coração
Seu fogo não se espalha
Excesso de razão
é como opinião
Se não ajuda, atrapalha

(Reprise – Ludov)

Eis que Sigmund, em seus apontamentos falocêntricos, deu pistas evasivas sobre a não-constituição da mulher que te habita, da incompletude emergencial e da “inveja” do falo. Bingo!

A razão só é absoluta para si mesma, assim como poderiam pensar seus donos. Cães que ladram farpas de amor e ódio cortantes.

O que sobra ao coração, falta aos olhos.

2 de mai. de 2010

Na Ponta da Língua


O cara: Que tu tem?
Ela: Acho que você tá pensando que sou uma louca.
O cara: E por que eu pensaria isso?
Ela: É que você pode pensar errado de mim.
O cara: Como assim?
Ela: Sabe... a gente transou de primeira. Nós nunca tínhamos ficado antes.
O cara: Era isso?
Ela: Não quero que tu fique pensando...
O cara: Arrã.
Ela: ...que isso acontece sempre...
O cara: Relaxa.
Ela: Porque essa foi a primeira vez que...
O cara: Tudo bem.
Ela: ...aconteceu comigo.
O cara: Tá.
Ela: Eu não sou uma qualquer. Não quero que...
O cara: Sei.
Ela: ...tu pense que sou...
O cara: Normal.
Ela: ...uma...uma...é...é... como é mesmo o nome?
O cara: Cara de pau.
Ela: Hã?
O cara: É. Sou muito cara de pau de ter saído do motel sem pagar o chokito.

1 de mai. de 2010

A Velha Sensação de Superficialidade


Ontem à noite eu conhecia uma guria que já desconhecia de outros carnavais, de outras cantorias. Ela não era estranha, mas me estranhava. E me arranhava as impressões como se quisesse se autoafirmar o tempo todo. 

Hoje ainda é o dia seguinte - fato que se repetirá também amanhã e em outras manhãs anoitecidas - pois nunca deixarei de ser um mero estereótipo. Antigamente eu era um perfil ao seu alcance, hoje somos o que não dissemos um ao outro, sobretudo a distância que nos mantivemos durante toda esta falta de diálogo. 

Acontece que houve um desprocessamento de informações as quais chegaram aos seus destinos antes da hora. Ela ainda chegava quando eu já tinha ido embora. Em boa hora, literalmente.