O barulho era tamanho que não conseguia distinguir minha própria voz naquele ambiente. De repente, lembro de gritar bem forte, o máximo alcançável, nem por isso obtinha sucesso. O sufoco forçava o corpo todo a se envolver, também a se debater contra a parede. Nem mesmo um leve instante de calmaria mudava a situação. De uma porta a outra não se ouvia um som que levasse incômodo ao resto da casa. Isso só vinha a somar desespero. Nenhuma pancada mais forte, nenhum alarde solicitando ajuda. Eu fazia um enorme esforço para entender o que se passava. No mínimo, queria saber a origem de tamanha força sobrenatural. Depois de um longo período de tortura, não acreditava mais sobreviver. Não tinha nada de filminho na cabeça. Simplesmente não conseguia pensar em nada, apenas
25 de out. de 2007
O Sonho
22 de out. de 2007
A Pílula do Prazer
A vaidade transparece menor abundância aos olhos externos. Por dentro, o corpo dá sinais de fadiga mental, não adianta exigir de si próprio o senso universal da apreciação. Mesmo o que está próximo da perfeição, ainda está bem longe de ser muito bom. Uma febril compaixão pelos elogios acompanha os sussurros mais imediatistas das salivas afoitas. Com isso, fatos inescrupulosos vão comovendo a humildade. Lembra bem uma daquelas mocinhas chorosas em frente à TV pelo seu grau de distração. Ficar na porta de entrada é só uma maneira de tentar se redimir. Usar roupa velha é só o símbolo-mor da busca pela simplicidade que, no fim das contas, não introduz garantia alguma. Deve ser coisa de gente firme e forte venerar sua filosofia do não-arrependimento. Quando dar o melhor de si não coincide com os resultados esperados, não há lamentação que resista a dar uma cuspidinha. Espero que um dia a vida moderna disponibilize elogios em cápsulas, porque em caso de abstinência, a farmácia mais próxima pode resolver o problema. A vaidade agradece.
16 de out. de 2007
Crise de Ansiedade
3 de out. de 2007
Narciso Se Contorcendo
Senti-me um cubano na Disney World, um iraniano enriquecido de urânio na Wall Street. Logo de cara eu tinha assumido o papel de obra-de-bienal com sua complexidade visual posta em questão pelos visitantes. Os olhos alçados pelo voto de pobreza espiritual procuravam como um radar o mau gosto, e os dentes, à mostra forçosamente, esticavam as faces para emplacar simpatia. Melhor assim e aproveitar a deixa para economizar no botox futuramente, senão eu dispenso. Os pedaços de pano e o chinelo já tinham sido reprovados no teste de compatibilidade antes do DNA ser colhido. Ora, estou sendo filmado e ninguém diz para eu sorrir? Eu não pretendo vencer na vida e ter a felicidade de um comercial de margarina para mostrar aos vizinhos que as coisas vão bem. Não mesmo! O cego enxerga a todos da mesma forma, mesmo sob a égide da deficiência. Já nós, amparados pelos saudáveis atributos físicos, limitamo-nos a enxergar o que está exatamente na carcaça. Pura carcaça. Eu não uso mais a velha camisa preta desbotada do Nirvana com o desenho do Kurt Cobain, nem mesmo o jeans rasgado e o all star com um vermelho de dar inveja ao Jack White. Porém, é como se as lembranças estivessem reescrevendo o senso de direção, vestindo as idéias e seguindo o velho rumo guiado pela venta.