7 de fev. de 2008

Baile de Máscaras

A alegria me comove. Não sei como posso ser tão promíscuo ao ponto de me envolver tão facilmente. É que nos dias de chuva eu me molho de verdade, e me deixo à vontade, só pra ver o meu despudor se encharcar de carolices. Nem sempre é bom sorrir pra manter as aparências, embora o incômodo de se sentir excluído possa ser ainda maior. Nesse caso, recolho minha fantasia de pierrot e me alio disfarçadamente à coleção de dentes instigados a se esbaldar em samba na avenida. Ah, a alegria me comove! Sento e vejo o bloco passar com uma efusividade de dar dó ao pirata em sua caravela desbravadora, nem parece que foi exatamente naquele lugar em que foram encontradas as bolsas postiças. Ora, e não é que conseguiram fazer um canguru comprar uma dessas beldades sintéticas! Há dias em que a colombina nem comemora seus confetes, imagine pular marchinha todos os carnavais. Se não for atrevimento, gostaria de sair de casa sem me aventurar muito à majestade das cenas de enunciação, como fazem os infelizes corpos que desfilam patuás sem a devida energia do axé dos Orixás. Posso ter a força de uma tragada de charuto cubano, mas não a complacência de um soldado raso. É preciso pelo menos possuir um estado de espírito antes que a alma possa ter um status. Ah, essa alegria que emana da rua me comove! É melhor estar verdadeiramente triste que contribuir para a contaminação do falso gozo. Ah, coitada da alegria! A propósito, ia me esquecendo, estamos num baile de máscaras.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

vomitadas