17 de jan. de 2008

Por Toda a Vida

O dia inteiro traçado por pequenas escolhas, a vida toda como obra de decisões importantes, nenhum de nós tem a noção exata das medidas adotadas para cada situação que exige um minuto de atenção. Um pouco de racionalidade aqui, uma pitada de intuição ali e mais três rodelas de emotividade, pronto, algo foi decidido. E a partir desse ato a vida pode descambar para um rumo bem diferente. Tudo é uma questão de escolha, literalmente. O erro, contrário ao arrependimento, faz parte da cadeia produtiva mental na qual o ego é a peça mais importante conforme poderia ressaltar as ocasiões em que ele foi determinante para saldar dívidas com o próprio juízo. Além do mais, não é nada cordial consigo culpar-se por ter lido o mapa de cabeça pra baixo e ter chegado a um lugar onde os botecos só vendem iogurte e as lagartas não se tornam borboletas. Num acidente de trânsito, é possível ir embora e viver setenta anos acompanhando o crescimento de seus netos que engolirão catarro aos montes ou descer do carro e ser alvejado por uma pistola automática 9mm pelo outro motorista, tudo isso em um curto espaço de tempo. Em se tratando de desespero, já basta por si mesmo o paradoxo da escolha. Ao contrário do que se admite como axioma por muitos, o maior número de opções à nossa frente em nada facilita a escolha, apenas acentua o desconforto no instante de saber o que se quer. O processo decisório está relacionado à liberdade, autonomia e controle, mas quando abrimos mão de um caminho o outro pode vir a ser nossa maior angústia. Talvez seja por isso que eu conceba a vida com uma viagem sem destino, amparada em trilhos, como no primeiro filme dos irmãos Lumière. Não posso parar. Carrego coisas em meus bolsos e pessoas em meu coração, aquilo que eu atirar para fora ficará para trás, as pessoas que descerem por algum motivo na próxima estação, também. Nesse caso, somente a memória (e se assim ela for capaz) poderá salvá-las da natureza implacável da escolha.

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