19 de nov. de 2007

Perda de Contato

Desespero também é não ter do que sorrir. Nessas horas, levantar da cama exige um tremendo esforço, dá preguiça de falar. A parede, em monocromia desalmada, não tem nada a oferecer senão a sensação de vazio. Talvez quem sabe entrasse um pouco de vento pela janela para balançar a casa-da-árvore-sem-folhas. A cama, apesar de íntima, é uma tormenta. A agitação de seus rebentos causa pesadelos a qualquer marinheiro experiente. Em ilhas desertas, o divã é um infinito tapete de areia, e os pacientes, tremendos curiosos em busca da origem da água dos cocos. Entre as mentiras contadas pelos homens, a mais sincera é a de que no fim tudo vai dar certo. Nem que seja sob aplicação de sedativos. É bem assim que as angústias se transformam em outras, suplantando uma paranóia substitutiva a cada ato de covardia. O dia que ainda não terminou na noite acordada, começa com os olhos quebrados de coragem. A luz do dia fez mais uma vítima do confronto com a realidade. Também não há escolha. Levanto querendo acordar para poder dormir.